Da Pressão de não ter uma depressão
Conheces-te, conheces-te demasiadamente bem para saberes que não estás bem. Tão bem, que os pequenos sinais tão ténues para tantos são gritantes para ti e mesmo sendo em alto e bom som, sabes, tu sabes, porque mais uma vez te conheces tão bem, que podiam estar a berrar-te ao ouvido, a abanar-te toda, que nada, nada consegue travar a viagem que fazes quando estás em alturas assim, alturas em que a vontade se vai, que o caos se instala, que tudo corra mal e tu tão activa e reactiva não reages, cais, vais ao fundo, esperas e passas por tudo, afinal esta não será a última nem a penúltima. Sabes sim que acordarás um dia, daqui a uma semana, talvez, ou amanhã já, acordarás e porás mão à vida, e pronto ficará tudo bem outra vez.
PS: hoje eu que tantas vezes neguei que tive uma depressão, sei e olho para estes episódios como depressivos, que sei que os vou ter para sempre, assim como sei que quando começam, o objectivo é passar por eles como quem passa por entre os pingos da chuva. Sei que mos são permitido tê-los. Antes eu não os permitia, nem os outros mos permitiam. O problema da doença antes foi a negação da mesma, a minha e a dos outros, porque os fortes não choram, porque não era possível a uma pessoa tão activa, tão forte ter uma depressão, ora essa, a mim era permitida qualquer doença menos essa, esta que é crónica e que levo para a vida...hoje penso que custa mais aos outros do que a mim ver-me fraca quando o estou...sem energia quando o estou, como se fosse anormal eu tambem ser esta, mas eu também sou esta...fraca de vez em quando...